"Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável"
Os rios da Amazônia carregam histórias que as mulheres conhecem como ninguém. Pescadoras, mães e defensoras das águas, elas enfrentam a poluição e cuidam da vida que nasce entre as correntes. Suas mãos preservam tradições e suas vozes clamam pela saúde dos rios. Entre redes, canoas e palafitas, elas tecem um futuro onde a água é fonte de vida e resistência.
ÁGUA É VIDA - por RENATA SEGTOWICK

A obra "Água é Vida", de Renata Segtowick, em técnica mista — acrílica e spray sobre tela — é uma interpretação vibrante e sensível do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, “Vida na Água”. A tela, com suas dimensões de 80 x 80 cm, é um convite a refletir sobre a importância vital dos ecossistemas aquáticos, especialmente os manguezais, que sustentam comunidades inteiras, como as da região do Salgado Paraense.
O fundo da obra é banhado por um azul claro, evocando a serenidade e a fluidez da água, enquanto o padrão de peixes, inspirados na tradicional azulejaria portuguesa, surge como uma metáfora visual para a abundância e a riqueza dos mares e rios, com suas criaturas que são ao mesmo tempo símbolo de sustento e de fragilidade. Este detalhe parece dizer que, no coração dos ecossistemas aquáticos, cada peixe, cada ser marinho, é uma peça vital para o equilíbrio e a sobrevivência das culturas que dependem do ambiente marinho.
Ao centro, a figura da mulher cabocla, com seus longos cabelos negros e ondulados, emerge como a representação da força e da resistência do feminino das populações locais, principalmente as que vivem do mangue. Ela segura com delicadeza uma panela de barro típica da região, dentro da qual repousa um caranguejo vivo — símbolo do sustento e da sabedoria ancestral que se entrelaçam com os ciclos da natureza. Este caranguejo, que habita os mangues, é mais do que uma simples criatura aquática: ele representa o vínculo profundo entre o homem e o meio ambiente, a dependência mútua entre a vida terrestre e aquática. A escolha de uma mulher cabocla para o centro da composição é um gesto poético e poderoso, pois ela encarna a resiliência das comunidades ribeirinhas e a luta cotidiana pela preservação dos recursos naturais que garantem sua sobrevivência.
Os catadores de caranguejos da região, frequentemente afetados pela degradação ambiental, encontram nas águas do mangue não apenas um sustento material, mas também uma conexão ancestral com a terra e o mar, em uma relação de harmonia e respeito. A obra de Segtowick também denuncia a crescente ameaça que paira sobre os manguezais, um microbioma vital que se vê constantemente em risco devido à poluição, ao desmatamento e à especulação imobiliária. Esses ecossistemas, ricos em biodiversidade, estão sob pressão, o que coloca em xeque a alimentação e os meios de subsistência de milhões de pessoas, como os catadores de caranguejo. Ao retratar essa mulher e seu caranguejo, a artista não apenas celebra a vida que surge das águas, mas também clama pela preservação desses ambientes essenciais, um alerta para as gerações futuras sobre a necessidade urgente de proteger a vida marinha e as comunidades que dela dependem.
“Água é Vida” não é apenas uma obra de arte; é um grito silencioso, mas intenso, pela preservação dos recursos hídricos e pelos direitos das populações que, como a mulher, fazem da água sua aliada e fonte de sustento. Ao capturar essa essência, nos convida a refletir sobre o nosso papel no cuidado com os oceanos, os rios, e as águas que nos cercam — e, por conseguinte, com a vida que neles habita.